segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Nome Disto

Eu quero existir de várias formas. O vento na varanda é insuficiente para serenar as cadenas soníferas de minhas próprias perturbações. Porém é chão. Todo ele pela frente até uma escada dissimulante como que vertebrada e inconsciente que vem a extrair de mim para além a minha própria vida. Imagine que ironia, críticos da razão sem razão. Toque!  É macio. Também insubstancial, paradoxal e colossal. Que seria da grandeza sem sua obscena ostensividade?
Eles tinham algumas bicicletas rústicas que usavam para passeios intrínsecos, com cães imaginários e felicidades repentinas. Eu sempre tive a arrogância, a essência de tudo que é apreciável. O princípio da megalomania e de tudo que é superior e progressivo, vivo e pulsante, aterrorizador e lindo, o caos em sua forma mais explêndida, digna de uma anacronia perfeita. Desta vez pude sujar toda minha roupa sem usar as mãos. Estavam limpas e meu terror andava por sei lá onde. Ligaram-me pela madrugada e acusaram-no de estar envolvido com o pavor da vida, antes ele do que os puritanos nas suas bicicletas em uma meia volta aberta com seus sorrisos descomedidamente fáceis. Um moralismo nebuloso mazelava nossas vísceras pestilentas, todavia é sabido que nestas manhãs o sol serve de general comandando um exército luminoso encarregado com o dever das alegrias matutinas.
Infernal janela com total ausência de ferro em sua constituição, malditamente diáfana e límpida que vem a ofuscar-me furtivamente entre paredes semi-iguais, conquanto eu seja muitos. Diga-me: todos os donos de uma vontade unilateral andam muito? Naquela instância a minha volição não alcançava nenhuma terceira dimensão como tampouco era moderna. Verossimilhante à crendice. Assaz capenga e letárgica. Movimento-me pelo cosmo em meu próprio tempo, sou próprio aqui e em todas as outras portas acessíveis ao meu consciente tortuoso; por sinal, onde estará esta última?
 É fim de estrada. Cento e setenta e quatro conto agora e porta enfim. Qual eu estará chegando? Chamemo-lo de ignóbil, mentecapto, vil, dissaboroso, andarilho da falta de minha ebriedade.  Cataventos! Ainda há de cair trovões enquanto amanheço defasado de minha continuidade. Mitigado e embrutecido, venho ver vazões vaidosamente vertiginosas de personalidades voláteis que ainda são eu’s camuflados, delirantes e estupefacientes da realidade, cedidos nas portas do apartamento.

Cesar Domity






Tossir até a Morte

Tossir até a Morte

            Talvez houvesse uma mesa que houvesse uma família, nesta talvez família sentada em uma mesa de seis lugares, retangular, indiferente e peculiar como um sorriso de um lojista.
            Nesta mesa talvez se servisse porco da fazenda Santos, que é um nome de pessoas que talvez morassem no litoral e não nos campos, e neste almoço talvez houvesse repolho. Ninguém come repolho na família. O porco talvez fosse uma porca que deixou desmamados dois porcos pequenos e cabeludos. Os outros dez porcos da mesma cria caíram no poço, talvez fundo, e só quem talvez soubesse disso fosse um habitante da fazenda que poderia ser mudo, talvez, ou simplesmente não gostasse de falar. Talvez houvessem também três crianças na fazenda assim como na mesa e estas crianças, quem sabe, limpavam seus suados e ranhentos narizes na camiseta deste habitante, que talvez fosse mudo ou que não gostava de falar, mas que corria toda a manhã com as mãos para cima e as genitalhas a mostra para os vizinhos. A vizinha, Tia Pitélia, que não é muda, talvez gritasse horrorizada e mandasse colocar pão na linguiça. O menino estava mais interessado na geléia e a vizinha talvez voltasse a tricotar esperando o marido que já talvez estivesse morto a vinte anos e talvez ela não lembrasse assim como não lembrava onde tinha colocado os chinelos que talvez tivessem um par de cada cor.
            Talvez a filha da vizinha, que talvez não fosse cabeluda, nem muda, nem porca, morasse na cidade grande e comesse repolho e talvez não sentasse com sua família a mesa para comer os porcos dos Santos que deixaram porquinhos com fome. Mas ela está morta em um cemitério bem afastado da cidade, como todo cemitério, e o viúvo, que é cabeludo, não mudo, tampouco porco, mas que sabe tricotar, vai visitar violentamente. Talvez ele fosse padeiro de uma padaria, que vende pães que, as vezes, vem com cabelos, que não são dele, mesmo ele sendo cabeludo. E esta padaria ficasse no subúrbio e talvez fosse assaltada mensalmente, talvez também o dono tenha colocado uma plaquinha pedindo para não assaltarem mais, sempre com muita fineza e educação. O Dono, por outro lado, é careca, porco e surdo, não mudo, surdo. Ele talvez sempre possa chegar em casa sem pensar na raridade do silêncio de casa, porque talvez isso seja um pensamento de pessoas que vivam com cabelos na fazenda, ademais, surdos pintam. Talvez este surdo pintasse e fosse assíduo na compra de cadernos infantis de colorir. E desenhasse porcos limpos e não cabeludos com lápis cor de rosa.
            Talvez venha a ser o dono também o pai e não tendo conhecimento dos costumes orientais talvez arrote, não por satisfação, enquanto um dos três filhos engasga com o osso da porca, que deixou dois porquinhos rosas, cabeludos e desmamados na fazenda dos Santos que criam um garoto talvez mudo que é magro como o curopira, e tosse enquanto morre como todas as outras pessoas também talvez venham a fazer, o que causa a grande pergunta se o farão ou não tossindo.


                                      Vinícius Faria e Cesar Domity

Paredes

Acordei e não vi nada.
Acordei e vi a cadeira.
Ou era a cama?
Era a cadeira.
Eu estava deitado no chão....
No chão ou na parede?
Eu estava deitado na parede.
Por isso pensei que a cama fosse uma cadeira.
Mas se eu estava deitado na parede,
Como é que a cama não caia do chão?
O Cesar deve ter amarrado a cama no chão.
Droga, eu não queria incomodar.
A cama amarrada no chão
E eu aqui deitado na parade.
Há um buraco do meu lado.
Tão quadrado quanto uma porta.
É uma porta.
Não tem portas no chão.
Mas eu estou na parede.
Vário buracos quadrados no corredor,
Várias portas quadradas no chão da parede que estou.
No banheiro não tem gravidade.
Ovos, farinha de trigo e batata.
A Wal está fazendo nhoque.
A Wal no teto e os nhoques pelos ares.
Eu no chão do lado do teto.
E ela no teto a juntar nhoques.
Eu no chão do lado do teto.
E todo resto era parede.
A arte, a ciência e a metafísica.
Tudo era parede.

  
                 Vinícius Faria