quinta-feira, 14 de junho de 2012

Medo da Morte

Eu vejo no breu medonho
A morte correr em passos miúdos
E caminhar em passsos largos
Decidida a me confrontar
Meus sentidos tortos inclinados ao vento
Proibe a vista de outrora
Temo meus pés verem o chão
Se perder de mim
E eu me perder de tudo

A morte enraizada como uma árvore
Cheia de maçãs como o pecado
Vermelhas e obcenas como a noite
Nem pelo escuro ofuscadas
De galhos que maçãs tiveram
Retorcidos e sinuosos como as pernas
De uma negra contorcionista

Realidade mista que se dissolve
Já no chão, pouco piso
Paisagem medonha que foi puxada
Árvore de meu espanto sugadora do mundo
Torna-se abstrata como a fumaça
Malditos corvos em debandada
Corrida minha do preto para o branco
Se ainda houver tempo

                                       Vinícius Faria

Noite e Dia


Noite e Dia
 
Pela janela grande do quarto, a vida entra pela manhã e quase me cega. Morfeu se vai e eu fico ali, preso no dia. Tanto quanto vazio e vago, o claro me apanha e não consigo controlar o sonhar que nunca tive enquanto dormia. 


A noite desce em graduada monocromia, leva a cor e os sonhos do dia, o gelo do breu ferve meu sangue e vejo melhor do que na claridade da aurora.


No claro do dia me sufoco no tédio, e o resto é so resto, não serve para nada.


Na noite também...  Fazer diferença não faz. É sorte então. Só espero que nessa, eu possa pelo menos apagar.
                                  
                                                                  Vinícius Faria

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Revolucionário Virtual

Hoje conheci um revolucionário. Alguém que estava em constante luta pela transformação. Não mais que um menino, mas que já é como um Hitler, não para benefício de uma única nação, e sim para todas. Movimentando-se pelo mundo como um messiais mundial.
Como arma suprema, ele faz uso de uma preta caixa quase quadrada cuja face frontal se ilumina. A partir de um duro, fino e comprido plástico retangular com a característica de dar leves estralidos ao ser massacrado com os dedos da revolução, ele envia suas mensagens à humanidade.
Alerta com veemência sobre as crianças do continente africano que pouco têm o que comer e que, por muitas vezes, a espera da urina dos animais é único modo para que de sede estes inocentes não desfaleçam. Desdenha da inteligência dos homens carnívoros enquanto alega que o herbivorismo é viável e que a isto também dá-se o nome de evolução.
Tal qual Van Helsing, ele é um operante da madrugada em uma jornada de horas intermináveis onde veste-se de Légolas para, com suas flechas certeiras, converter alguns para o seu admirável mundo novo. Sobre o espaço dentro da caixa, ele o denota como virtual. Apresentou-me nele o seu círculo de amigos. Descreveu-me sobre a teoria de zumbificação onde seres estagnados vivem para sobreviver e o custo desta é a limitação do pensar. Que mesmo os melhores cérebros podem ser devorados totalmente quando cercados por zumbis.
Digo que conheci um revolucionário. Nada mais que pouco é o que ele precisa. Sua máquina, nenhuma namorada e sua mãe, que lhe traz comida. Diz que o mundo lá fora não pode ser mudado por fora, que há muitos como ele e que a verdadeira luta ali está. 
Palmas para este Dom Quixote. Com leve sabor de escárnio, uma salva de palmas.

                                                                                 Cesar Domity


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Parcimônia do Caráter (III) - Continuação

         - Pensei que se não tivéssemos a interação emocional sobre nosso comportamento poderíamos obter uma forma racional de agir. Se excluíssemos todas as ações que poderiam ser reacionais devido as emoções, todos os humanos comportar-se-iam da mesma forma, sendo lógicos.
- O que há de errado com este pensamento?
- Tudo que fazemos e pensamos parece ter uma base para dar fundamentação a tudo. Alguns têm suas religiões e toda base volta-se a livros, ou livro, contos, mitos, mas isto não é mais que uma desculpa bem articulada, nenhuma base provém daí, todavia ainda não foge de um principal fator. Nos outros casos, vemos o desenrolar do pensamento, vemos estes caminhos da razão, concordamos ou discordamos e assim se procede, porém veja que tudo isto leva a um fator principal que dá base a toda esta fundamentação: o axioma de que nossa mente pode inclinar-se para o certo e descartar o errado.
- Desenvolva.
- Neste caso, não estamos falando sobre o certo ou errado, estamos nos referindo a limitação da mente sobre este poder.
- Logo, tu queres dizer que, em determinada situação, se teu cérebro conclui que aquela maneira é a mais racional de todas, mesmo existindo uma outra, tu, mesmo como ser consciente, não poderá mudar a linha de pensamento e se oporá a outra, que na verdade, é a mais racional de fato?
- Sim. Além disso, como podemos supor que em qualquer situação esta opção pode ocorrer? Como não podemos supor que isto seja exatamente fruto de um febre humana chamada racionalidade? Ou até que muito disso – ou tudo - não seja fruto da praticidade?
- Como entrar em um elevador e apertar o número que se quer ir em vez dos outros?
Virgo levantou o supercílio demonstrando interesse pela observação. Enquanto a jovem acendia um cigarro de cravo importado, ele fechou os olhos ao passar a mão pelo rosto.
- Como saber que toda a realidade não é forçosamente um laborioso processo cognoscitível? Digo, assim como há pessoas que escutam menos que outras, poderíamos ver mais realidade ou menos do que a existente?
Um dos conhecidos sopros o arrastou novamente para um novo lugar no mesmo lugar. A sala arrumada. “Menos móveis que semana passado” concluíu, a percepção que ali era o mesmo lugar não faltava, o que dava mais por falta era a presença da dela.
                                                             Cesar Domity



Parcimônia do Caráter (III)

                                                                    (Parte III)

O sol invadia com fulgor a grande janela quadriculada central. Ele olhou com repugnância e, entrementes acompanhado de tropeços e típico embaraço matutino, puxou as cortinas. Alguém insistia na porta até que fosse aberta.
- Pensei que já estarias morto.
- Por que faria isso?
- Por que não farias isso?
- Por que tu não fazes isso?
Adentrou ao apartamento tão logo ele abriu a pequena entrada de madeira, que não a janela, uma jovem de cabelos áureos e esvoaçantes, vigorosa e rígida. Ambos respondiam muito rápido a retórica alheia, eram firmes e beiravam a rispidez em cada palavra, de costume que envolviam-se em conversas como em um jogo de xadrez.
- Onde está o hipopótamo?
- Não sei do que falas.
- Hipopótamos são animais extremamente territoriais e agressivos, a aparência carismática destes fazem humanos aproximarem-se deles como animais domésticos comuns. É o animal que mais causa mortes na África. Então, posso supor que trouxeste um aqui para fazer uma guerra-de-travesseiro mortal.
Ela olhou firmemente para Virgo que sentava-se no sofá central.
- Desta maneira só consigo pensar em duas perguntas: Onde está o hipopótamo ou o que aconteceu.
Ela sentou-se na mesa logo a frente do sofá. Olharam-se profundamente. Pouco barulho poderia ser ouvido do lado de fora e praticamente nenhum de dentro.
                                                             
                                                                                                                      .... continua.