segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Prolixidade Láxica

Sonho? Que sonho?
Por vezes tantas, nem dormir eu durmo
Viver o sonho
O sonho...
O sonho...
O conjunto de imagens que se apresenta ao espirito durante o sono
A utopia
A ficção
A fantasia
A ilusão
A visão
A aspiração
A coisa fútil e transitória
A vida
O desejo
O biscoito de farinha e ovos, fritos em azeite ou mateiga e passado depois em calda de açucar
Sério?
Vou viver o momento
Que momento?
O espaço pequeniníssimo mas indeterminado?
De tempo
O instante
A ocasião azada
A circunstância
O produto de uma força que vai do ponto puxado à direção da força?
Viver o agora?
Nesta data
No presente
No instante
E morrer com ele?
E depois viver de viver de novo
E renascer de novo
Fênix
E cansar de tanto morrer
Ah tempo...
Duração calculável dos seres e das coisas
Duração limitada
Sucessão de dias
De horas
Momentos
Período
Época
Estado atsmoférico
Os séculos
Ensejo
Estado ou ocasião
Própria
Cada uma das partes completas de uma parte musical em que o andamento muda
Duração de cada parte do compaço
Flexão indicativa do momento
A que se refere o estado ou ação dos verbos
O endez da vida
O que fazer do tempo no tempo?
O tempo só tem espaço
E tudo além do tempo nao existe
Sou só eu e o tempo
Eu e o tempo...
Eu e o tempo...
Eu e o tempo...
Eu...
Individualidade metafísica da pessoa
Solúvel ao ser
Ter um atributo ou modo de existir?
Estar
Existir
Ficar
Pertencer
Ter a natureza de causar
Produzir
Consistir
Ser formado
Ser digno
Sou uma absração de fim de dia
E esse não ser insiste e incomoda
Eu nao sendo e o tempo...
Eu nao sendo e o tempo...
Eu nao sendo e o tempo...
Assim viver?
Aliás, viver...?
Estado de atividade funcional peculiar aos animais e vegetais
Existência
Tempo decorrido entre o nascimento e a morte
Modo de viver
Existência do além-túmulo
Animaçao em composiçao literária ou artística
Vitalidade
Subsistência
Origem
Sustentáculo
Sou, és, é, somos, sois, são
Era, eras, era, éramos, éreis, eram
Fora, foras, fôramos, fôreis, foram
Fui, foste, foi, fomos, fostes, foram
Seria, serias, seria, seríamos, seríeis, seriam
Seja, sejas, seja!
Fosse, fosses, fosse, fôssemos, fôsseis, fossem
For, fores, for.
Ah! Nao sei e me cança querer saber
Sinto-me soporífero
E nao sei dormir
Dormir
Entregar-se ao sono
Descuidar-se
Descançar no sono
Morrer
Jazer
Durmo
Dorme
Dormes

                                          Vinícius Faria

Cabide

Vesti uma roupa que não era eu
Fui tido que a roupa que não era
Nela não senti a mim mesmo quando vesti a roupa que sou

Senti-me menos eu ainda
Pendurei-me no cabide
E a minha roupa toda saiu nua pela rua

                                                   Vinícius Faria

Sussurro

Venho das cores de teu quadro
Por entre os vultos te procuro
Trago a madrugada e te abraço
Fecho teus olhos do escuro

Na espera, na falta e na sede
Pela janela a última estrela
No sufoco de quatro paredes
Perdi a palavra para dizê-la

O vento soprou sozinho
As ideias foram vida a fora
Caiu no chão a última hora

A noite quebrou meu riso
Teu frio aqueceu minha alma
Encontrei a margem externa do paraíso


                                                    Vinícius Faria

Bebedeira

O corpo que bato
A lástima e o carrasco
A ânsia que sofre
E que empurra
 

O instinto que rasga
Sou o próprio rasgo

A vida que morde
E as entranhas invade
 

De dentro te agarro
Respiro-te
E te beberia também...


                                        Vinícius Faria

Notas de um Astronauta

Nem comecei a voar, já estou cansado
Céu, meu destino é saturno
E minha companhia o espaço
Cego, escuro e profundo.

Não tenho mais maldade nem desejo
Sou um reluzente imortal
Hipocondríaco e suicida
Enterrado em areia movediça de cristal.


                                             Vinícius Faria