quinta-feira, 23 de maio de 2013

Sideral

Quiçá estrelas
           Sintetizam a presença

Sabe, menina
Na posse, uma solidão encrosta.
Um deserto se torce

Todos os unos
            Ainda abandonados estão
          
                                             Vinícius Faria

Vai anoitecer, Betina

Já começa a anoitecer.
O que é isso?
É pulga que me sobe?
Não. Não faça nada.
Deixe que ela me ame.
Se ela não se alimenta de mim, alimenta-se de você, querida.
Ou de fome morre.

Quem disse que as horas passariam cadentes?
Estão elas homogêneas e pestilentas.
Grudadas na parede e exaurindo pavor.
Guarda este relógio, mulher!
Guarda-te tu também.
Não aí. Na gaveta mais em cima.
Direita... Esta!

Não recolherás a roupa?
Está anoitecendo.
Eu sei que tu sabes.
Apenas queria avisar...
Talvez até venha chuva de noite.
Tem este vento de gente nova soprando.

Tens razão.
Será bom que chova.
Puta que pariu, Betina. Quando foi que ficamos tão chatos?
                                                             
                                                              Cesar Domity

Célula

Nada defenda,
Para a ti defender.
E para defender a ti,
Defenda-te e só
Não seja nada
Lembres de ti, tu!
Natural te seja
E assim não te trairás.

                  Vinícius Faria



Extrato físico

A única maneira de ser
Mais do que se é
É ser tudo
Que se é

                             Vinícius Faria

Carta Desesperada

Como é difícil, como é difícil, Beatriz, escrever uma carta.
Antes escrever os Lusíadas!
Como uma carta pode acontecer
Que qualquer mentira venha a ser verdade
Olha! O melhor é te descrever, simplesmente,
A paisagem,
Descrever sem nenhuma imagem, nenhuma...
Cada coisa é ela própria a sua maravilhosa imagem!
Agora mesmo parou de chover.
Não passa ninguém. Apenas
Um gato
Atravessa a rua
Como nos tempos quase imemoriais
Do cinema silencioso...
Sabes, Beatriz? Eu vou morrer!

                        Mário Quintana (Homenageado)