Nas minhas reflexões sobre a
literatura nos nossos dias, encontro espaçados atravancos que me impedem de
tomar qualquer conclusão. Parece que viemos para um mundo onde tudo tornou-se
redondo para não machucar nossos olhos e dedos. Salta-me aos olhos que estamos
enclausurados na bolha da especificidade.
Sendo um pouco mais claro e em
um contexto mais geral, parece que, por um lado, podemos nos espalhar pela
ideia de qualquer época no passado e nos deliciarmos com esta idealização. Seja
na Grécia Antiga, no Império Novo do Egito, na Baixa Idade Média, na estruturalização
da sociedade moderna ou em qualquer outra época, parece que obtemos rapidamente as melodias poéticas que
circundam estes dias e que algo se perde ao nos remetermos ao presente. Tão
verdade é isso, que podemos ampliar o pensamento do denso presente para um
contexto de futuro. Mesmo que não tenhamos qualquer dom físico de ver o que
poderá acontecer em cem ou mil anos, podemos supor qualquer coisa em vista do
universo da ficção. Coisas no patamar de pós-humanismo indo de híbridos de
animais ao horizonte dos cyborgs, ou da convivência pacífica com seres de
outros planetas, galáxias ou até, na improbabilidade física, com seres extradimensionais.
O que nos leva ao ponto óbvio de todo este pensamento – imaginação.
Talvez estejamos sendo
calibrados com doses altíssimas de anti-poesia no cotidiano ao ponto de estarmos
a destruir nosso poder de imaginação. Quiçá eu nunca faça ideia absoluta do que
Kundera deveras quis dizer quando apresentava o Kitsch assim como muitos tão
pouco entendem o que o próprio contexto vem a ser, mas suponho que algo como os
primórdios do socialismo bem como a evolução generalizada do mundo hodierno
podem ser o quadro ideal de tal conceito. Vivemos em um mundo todo estético e
oposto à arte, onde qualquer coisa pode ser considerada arte e o que leva à
conclusão parafraseada mais primitiva e patética do existencialismo: Se tudo é
arte, o que é arte?
Neste mundo dominado pelo Kitsch, nota-se a relevância das formas, da expressão, do grito, não obstante, nada parece ter profundidade. Tudo que tocamos em termos de poética apresenta, no máximo, um auto-relevo oriundo da má organização das tintas na mão do nervoso pintor. A apoesia é dominante no tal presente.
Neste mundo dominado pelo Kitsch, nota-se a relevância das formas, da expressão, do grito, não obstante, nada parece ter profundidade. Tudo que tocamos em termos de poética apresenta, no máximo, um auto-relevo oriundo da má organização das tintas na mão do nervoso pintor. A apoesia é dominante no tal presente.
Não consigo, ao certo,
identificar todo o problema disso. Aqui, na América Latina mesmo, o que temos
de melhor vem da poesia do século passado e, indubitavelmente, do realismo
fantástico. Voltando a ideia do primeiro parágrafo, parece que temos a doença
da especificidade. Tudo pode ser colocado de forma objetiva e reta de tal forma
que todo o resto é prolixidade. E isso não só vem em termos de linguagem composta,
mas também de palavras individuais. O que é um computador se não um computador?
O que é uma televisão se não uma televisão? A grande variedade de palavras
sinônimas desta última é composta de: TV, televisor e aparelho de televisão. Ao
desmantelarmos a palavra, temos poesia, mas perdemos a palavra.
“Televisão.
Tele-visão.
Visão”.
Um amigo meu disse que “Hoje
considera-se arte qualquer coisa que se faça com intuito de arte e a isso dá-se
o nome de Arte Conceitual”. Ainda que os contemporâneos possam considerar
poesia tamanha estupidez, imagine a inflexibilidade poética dos versos com a
palavra “computador”.
“Não venhamos com este rancor.
Aproveitemos a noite de quarta.
Usufruemos do mundo do
computador.
Venha logo que logo tudo acaba,
tudo passa.”
Há sempre um ar de coisa
cotidiana demais e sem círculos. Nada é preso. É, com efeito, um cotidiano
vulgarizado. Sem respiração poética.
A nossa adaptação aos
parâmetros sociais atuais da cultura ocidental vem nos tornado menos
artísticos. E com tudo empurrando o mundo moderno, o mundo digital para os
novos cérebros, que tenhamos uma certa tristeza presente para os desgraçados
infelizes nulos de arte do futuro. Logo estaremos em uma sociedade completamente
apoética e voltada aos prazeres imediatos como em Brave New World e nós seremos
uns bárbaros abstratos a suspirar Shakespeare.
Cesar Domity
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