quinta-feira, 23 de maio de 2013

A Arte em Tela Brilhante

Nas minhas reflexões sobre a literatura nos nossos dias, encontro espaçados atravancos que me impedem de tomar qualquer conclusão. Parece que viemos para um mundo onde tudo tornou-se redondo para não machucar nossos olhos e dedos. Salta-me aos olhos que estamos enclausurados na bolha da especificidade.
Sendo um pouco mais claro e em um contexto mais geral, parece que, por um lado, podemos nos espalhar pela ideia de qualquer época no passado e nos deliciarmos com esta idealização. Seja na Grécia Antiga, no Império Novo do Egito, na Baixa Idade Média, na estruturalização da sociedade moderna ou em qualquer outra época, parece que obtemos rapidamente as melodias poéticas que circundam estes dias e que algo se perde ao nos remetermos ao presente. Tão verdade é isso, que podemos ampliar o pensamento do denso presente para um contexto de futuro. Mesmo que não tenhamos qualquer dom físico de ver o que poderá acontecer em cem ou mil anos, podemos supor qualquer coisa em vista do universo da ficção. Coisas no patamar de pós-humanismo indo de híbridos de animais ao horizonte dos cyborgs, ou da convivência pacífica com seres de outros planetas, galáxias ou até, na improbabilidade física, com seres extradimensionais. O que nos leva ao ponto óbvio de todo este pensamento – imaginação.
Talvez estejamos sendo calibrados com doses altíssimas de anti-poesia no cotidiano ao ponto de estarmos a destruir nosso poder de imaginação. Quiçá eu nunca faça ideia absoluta do que Kundera deveras quis dizer quando apresentava o Kitsch assim como muitos tão pouco entendem o que o próprio contexto vem a ser, mas suponho que algo como os primórdios do socialismo bem como a evolução generalizada do mundo hodierno podem ser o quadro ideal de tal conceito. Vivemos em um mundo todo estético e oposto à arte, onde qualquer coisa pode ser considerada arte e o que leva à conclusão parafraseada mais primitiva e patética do existencialismo: Se tudo é arte, o que é arte?
         Neste mundo dominado pelo Kitsch, nota-se a relevância das formas, da expressão, do grito, não obstante, nada parece ter profundidade. Tudo que tocamos em termos de poética apresenta, no máximo, um auto-relevo oriundo da má organização das tintas na mão do nervoso pintor. A apoesia é dominante no tal presente.
Não consigo, ao certo, identificar todo o problema disso. Aqui, na América Latina mesmo, o que temos de melhor vem da poesia do século passado e, indubitavelmente, do realismo fantástico. Voltando a ideia do primeiro parágrafo, parece que temos a doença da especificidade. Tudo pode ser colocado de forma objetiva e reta de tal forma que todo o resto é prolixidade. E isso não só vem em termos de linguagem composta, mas também de palavras individuais. O que é um computador se não um computador? O que é uma televisão se não uma televisão? A grande variedade de palavras sinônimas desta última é composta de: TV, televisor e aparelho de televisão. Ao desmantelarmos a palavra, temos poesia, mas perdemos a palavra.
“Televisão.
Tele-visão.
Visão”.
Um amigo meu disse que “Hoje considera-se arte qualquer coisa que se faça com intuito de arte e a isso dá-se o nome de Arte Conceitual”. Ainda que os contemporâneos possam considerar poesia tamanha estupidez, imagine a inflexibilidade poética dos versos com a palavra “computador”.
“Não venhamos com este rancor.
Aproveitemos a noite de quarta.
Usufruemos do mundo do computador.
Venha logo que logo tudo acaba, tudo passa.”
Há sempre um ar de coisa cotidiana demais e sem círculos. Nada é preso. É, com efeito, um cotidiano vulgarizado. Sem respiração poética.
A nossa adaptação aos parâmetros sociais atuais da cultura ocidental vem nos tornado menos artísticos. E com tudo empurrando o mundo moderno, o mundo digital para os novos cérebros, que tenhamos uma certa tristeza presente para os desgraçados infelizes nulos de arte do futuro. Logo estaremos em uma sociedade completamente apoética e voltada aos prazeres imediatos como em Brave New World e nós seremos uns bárbaros abstratos a suspirar Shakespeare.
                                                    Cesar Domity

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