Cavalgam atados em fios de rebentos que soluçam e participam
deste meio enquanto contrariados
Partem daqui as cotovias violentas das poesias que não
sobrevivem no vácuo
E correm todos na velocidade da imaginação sem búsola e
trilha sonora para o lado errado.
A imaginação pisca e bate na tecla branca.
Bate, bate, bate.
Lá na bem agudinha.
Bem da direita.
Facina-se e cria esperança.
No piano parece que há vida, mas o próprio já é morte.
Já é morto.
Dancemos.
Porque hoje tem boa valsa e aquele vinho do porto que não
veio de Portugal.
Finjamos nós também que não temos nossa carne suja de índio.
Finjamos que nossa safra seja europeia.
Brindemos e bebamos nas nuances da valsa universal para que
a camareira tenha algum trabalho pela manhã.
Ela é um ser humano e também necessita reclamar.
E de manhã, um suave Noturno para despertar a cabeça de
metal e o corpo de papel.
Fácil é pedir para que o mundo pare.
Só que ele é como uma mãe contrariada de um filho bastardo.
Ignora-nos.
Deitados na beira da estrada da imaginação, nos recriamos.
Ficamos fossilizados e viramos o combustível do mundo que
parou de súbito.
Sem peça final.
O teatro esvaziou-se e a arte descansou em terror.
O navio que nos exilava de Capela parou em algum asteróide
perto do sossego.
- Olá, sossego.
- Olá, desassossegado.
- O que esperas por aqui?
- O fim da história que venho participado.
Nós inventamos fins
do mundo para podermos dizer “Eu li este livro até o último ponto”.
Cavaleiros do apocalispse, explosões solares, inferno sobre
a terra, o mundo embebido em água, zumbis, nova era glacial, maremotos, meteóros
colisivos...
É um desejo intrínseco ao homem ver o fim da história.
Suicídio: Substantivo masculino. 1. Desistência de ver este
desfecho.
Cantem comigo este decaimento sustentado pelas notas
agudinhas em cima de um osso alado.
Din din dom dom.
Vamos sorrir não por que a felicidade se apossa de nossos
corações e sim por aqueles que desenham corações nas árvores.
Por aqueles que sonham com um coração em duas dimensões
representado por um V abaixo de um M bem arredondado.
Por aqueles que perdem as estribeiras, desnudam-se e cantam
embriagados.
Por aqueles que treinam em salões a falsa nobreza que não
sentem desferir.
Vamos sorrir pelo simples motivo de não termos motivo para
sorrir.
Cesar Domity