quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Resistência em Tempos de Zombaria

                  O tempo no céu era de interesse mínimo. Estive viajando pela vergonha e conhecendo os novos endereços da solidão que não se somava mais aos cantos. Desde que meus medicamentos mudaram, minha própria indecência fez-se acompanhar por meus outros conflitantes íntimos e tão bem conhecidos. Estávamos banhados de suor e sangue e, entrementes, prosseguíamos lutando desconhecendo a causa. Estávamos sempre dispostos a nos arrojarmos em uma desafio perpétuo de auto-perseverança e fraqueza alheia. Minha incansada mente e eu.
         Andei pecaminoso a quase desistir e debandei. Então pensei na bobagem por qual estive andando. Assei essa essência e a fiz comer como tributo às instâncias de suplício reproduzidas de sua impudicícia. Rondava-me durante as madrugadas que arrastavam-se lentas e solitárias, vivas em pensamento e distantes da pequenez humana, e pelas manhãs, que por si só são secas e têm uma valsa constante dessa nossa dança tão natural de vivermos, e, ainda, pelas tardes que são um caminho para o terror do ocaso, pulsantes, de um aclive sonolento e um brilho tardio. Tão-só vazio após isso tudo era, nada era noite.
         Vi que ela mudou e que o seu arsenal de objetos para minha desordem ficaram sofisticados juntos à minha sagacidade. Pude sentar e comer duas vezes esta semana. Alimentei-me de um sortido de cabelos, pressão, derrota e alegorias sonoras do Brahms batidos ao leite d’angústia. O meu pensar contingente teria pedido um dicionário mais excelso que de Voltaire no nascer. Já é tempo. Nada muito claro, tudo pouco escuro. Em seguida, perderei a palavra que venho acompanhado há tanto, que me engasgou por vezes e em muito me pouco serviu. 
                                                  
                                                                     Cesar Domity



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