O vento que me toca pela vida, para contra a neblina
Que atravessa meus óculos, molha a minha alma
Morde o pescoço de apreçadas mulheres encasacadas
Enquanto ando vigiado por vitrines envidraçadas de noite
Penso na minha poltrana e como poderia estar lá
Fora desse tempo ruim
Meu corpo rejeitou a poltrona
A idéia de estar nela feriu minha alma
Como se sentado nela eu ficasse fora do mundo
E o vazio do não-mundo foi-me como uma brasa no peito
A rua me parece tão estreita que atravessa o próprio fato
E uniformiza minha vida
Passo em lugares de outros olhos, de meus olhos, em outros tempos
E chego a sentir o cheiro daquele dia sentido sem sentir
Tenho a sensação de esticar a mão e tocar o “em mim” que esteve ali
Tudo foi tão outro e agora está assim
Só a neblina é real que sinto
De resto até o que vejo vendo é um ensejo transfigurado
Por lups do tempo que moram em minha alma
E acordam quando vejo o que vejo, vendo mais que isso
A noite hoje,encontro comigo em cada esquina, em cada banco
Toda hora passo na rua por mim
Com tanta gente que se difere, assim como me defiro em cada um
Onde está essa gente...De certo couberam em suas poltronas
Eu não, precisei sentir a neblina para ter certeza de eu ser o eu de agora
Meu corpo cansa e a ânsia prevalesse a caminhar meu caminho
Como para encontrar todos os eus do passado esta noite a passear
Nas ruas de meu pensamento, por entre meus aculos de neblina
Mas me ver tanto na rua cheia que está vazia
Deixou-me mais fora do mundo ainda
Todos os outros, com os outros comigo, na rua que não estão
Couberam em suas poltronas
E as poltronas hoje levam para fora do mundo
Vinícius Faria
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