sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Metástase

Ouvi dizer que não mais é livre.
Que já se acalenta em um canto quente.
E nega até o que nega para que o pão te chegue quente, com geléia, frutas e xícara de porcelana.
Ouvi dizer que te guarda em uma caixa aveludada.
Ouvi dizer que pisas na umidade para não fazer barulho.
Ouvi dizer que não mais se vive, somam-se dias aos dias que você divide.
Que é com papel de dinheiro que você forma a sua imagem, 
E a de vir ser com o sossego de não ser, tão pouco viver, mas ter.
Que as graças que te chegam quando adulto estupram as crianças que foram
Ouvi dizer que ficas mudo ao barulho que faz
E que não há az nas mãos que te jogam, só nas mangas.
Ouvi dizer que as engrenagens que te puxam a tempos tantos deixaram de ser orgânicas
E o que move essas cifras engrenagens metálicas são sangrias a base de sanguessugas noturnas
Ouvi dizer que te deleitas no deleite como um enfeite de cabelo
E que te toleras como um cão de fazenda que é propriedade do capacho, a serviço de nenhum dono.
E que aos outros olha com um sibilar 
Que no domingo de manhã escuta opera
E nas noites canta maldições de insônia
Ouvi dizer que dormes em tocas amontoadas, como copas de árvores.
E que vem sereno o vento que quebra as tuas artes 
Dobra os sorrisos em sobras de movimento cutâneo, para o automático das horas.
E que já morre muito antes de ter vivido

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