Banho. Entro no quarto. Toalha
em volta do corpo. “Consegui chegar a tempo”, disse-me. Minha pergunta veio-me
sufocada “Quem é ele?”, pensei. Estava espaçosamente acomodado. Havia tirado os
sapatos; meias de um verde escuro uniforme; em conforto; inclinado na cabeceira
da cama de casal. Lia uma revista qualquer. Não gosto de revistas, pensei.
Avistei no criado mudo, imediatamente ao lado dele, mais três. Elas estavam
ali?, pensei. Quando percebi certo movimento diferenciado, o qual me fez
inferir que ele trocaria de página, dei-me por conta que que ainda permanecia
de toalha.
Ele mexeu um pouco no cabelo,
na roupa e perguntou “Estás bem, Amanda?”, “Sim, tudo ótimo”. Ele conhece-me de
fato. E, em vista de sua despreocupação, devo vestir-me despreocupadamente tal
qual.
Toalha. Guarda-Roupa...
Parece-me maior. Aliás, não me recordo de ter aquele abajur amarelo. Suponho
que deva dizê-lo que não tenho apreço por amarelo. “Estás olhando o abajur
novamente?”, disse-me enquanto distraia-me dentro de mim. Destarte, estava
agora impossibilitada de falar mais sobre este objeto tão... abjeto. Olhou-me
novamente. Pronto. Nua. Permanecerei de costas. Podendo simular qualquer busca
especial de roupa. Esta calça parece-me suficiente, a supor pela temperatura.
“Vais sair?”, interrompeu-me. “Nós vamos?” perguntei de forma levemente irônica
para que ele não apercebesse em mim qualquer desorientação. Levantou-se e
organizou a revista exatamente em cima da segunda que estava justaposta com a
primeira que, por sua vez, estava exatamente encaixada, digamos, na beirada do
criado-mudo. “Vai acabar esfriando”, disse-me com um sorriso simpático. “Então
que não percamos tempo”. A esta altura, já estava com roupa íntima e só me
bastava colocar qualquer vestido caseiro. Com efeito, tinha total
desconhecimento sobre o que estavamos a ir comer, mas supunha que meu palpite,
em forma frasal, estava correto.
Comida pedida da rua. Comemos.
Conversamos um pouco. Porém, nada muito relevante. Ele se dizia cansado e reclamou
um pouco de dores nas costas e nos olhos. Eu, para não me fazer desregulada,
inventei qualquer dor insignificante para parecer naturalizada à conversação. Em
certo momento, ele olhou-me com seriedade e disse “Estás a tomar tuas
medicações?”, “Sim. Absolutamente. Não posso deixar deste jeito.”, “Muito bem.
Da última vez, bem lembras como foi.”, “Não... Não venha a se preocupar. Está
tudo bem agora.”. Nesta instância, desassosseguei-me violentamente no meu
interior. Talvez estivesse esquecendo-o por um remédio.
Em certo momento, ele disse que
já estava ficando tarde. Comecei a pensar se deveria deixar a casa dele. Já
tinha uma expressão por demais cansada e talvez quisesse repousar. No entanto,
mal havia eu pensado nisso, ele se levantou, dirigiu-se até o quarto – pensei então que ele me traria alguma surpresa ou que estivesse lembrando de
entregar-me algo antes que eu partisse – e voltou vestindo um casaco. Pegou um
dos molhos do chaveiro, abriu a porta sem muitas cerimônias. Nesta instância,
imaginei que eu era a amante dele. Nenhum anel, pelo visto. Beijou-me nos
lábios sutil e rapidamente. “Estou cansado. Desculpe pela falta de conversa”,
“Não há problema nisso... Outra hora podemos fazer algo.... Quando estiveres mais
disposto”, “Amanhã virei ter contigo mais cedo”, “Estarei a esperar-te”. “Até
amanhã, Amanda”. Perguntei-me olhando-o: Há quanto tempo eu estaria fazendo
isso?
Porta. Devo tê-la recém
trancado. De quem será esta casa?
Cesar Domity
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