Um mulato de qualquer nome
passeava pelo parque no princípio do entardecer. Amaciava-se no caminhar
enquanto absorvia sua essência de animal mesclado; pardo até na alma. Revigora-se
entre os desafios dos propostos paradigmas sociais. Porém, falava pouco.
As senhoras que ali passavam e
alimentavam as pombas eram, em aspecto bem restrito, mais interessantes que os
individuos que com ele se propunham a conversar. Enquanto as senhoras com as
roupas em cruzamento do século atual e do século passado alimentavam as gordas
pombas com um ar de ambietização da existência, os indivíduos falantes só
queriam comunicar seus cotidianos frustrados.
O caminho do
parque possuía uma abóboda de galhos e folhas verdes que traziam a imagem do
quente e fortemente colorido verão. Apesar desta estação não ter muitas
variações, as cores do verão são normalmente intensas. Assim se baseava para
saber em qual estação encontrava-se. Parecia um sistema lógico. O verão e o
inverno são oligocromáticos, porém, intensos nestas cores. O primeiro apresenta
cores mais vivas enquanto o segundo destaca as frias. A primavera e o outono
traziam uma relação diferente tal que a primeira estação era uma miscelânia de
nascentes cores em todos os cantos; o outono descascava as mesmas e as punha em
sépia e preto. O mulato ainda concluía uma analogia entre o pensamento e as
estação: A primavera propunha insights e
a reverberação da criatividade ao passo que o outono afundava os homens na
reflexão.
O mulato havia
sido doutrinado em uma sociedade judaico-cristã que prega a prática de valores
sociais antes da eficiência da aplicação destes valores. Assim como muitos, ele
pouco sabia do reflexo dos valores que aplicava. Nem os negativos, nem os
positivos e, por tanto, como um cidadão de uma sociedade pseudo-laica, tratava
de fazê-los antes de entendê-los.
Nesta
admiração pela existência, uma senhora, com vestimentas mais antiquadas que o
comum das senhoras e de rugas expressivas que pareciam contar uma vida em uma
linguagem taciturna e contextual com a criatura proprietária, sentou no mesmo
banco que o mulato. Tinha em mão um saco de papel marrom e atirava alguns
poucos pedaços de pão para as pombas gordas do parque.
O mulato a
parcebeu de sobressalto e ela sorriu como uma avó que pega o neto a fazer
traversuras e consente em manter aquelas ações em desconhecimento para os pais
da criança. Ele, inconscientemente, sentiu-se confortado e relaxou o corpo como
se a combinação entre ele o banco fosse um estado quântico fundamental. E neste
mesmo princípio, preferia que ninguém o observasse, que ninguém interferisse,
que ninguém cedesse o mínimo de energia que fosse para excitá-lo. Eis que, ao
longo de algum tempo, o conjunto senhora - que incluia as rugas, as roupas e
uns 70 anos de idade - manifestou-se.
- Sabes, moço...
Hoje faz 5 anos que o meu marido faleceu.
Ele supôs que
a senhora fosse como uma boa velhinha solitária, criadora de inúmeros gatos,
que divide os períodos de lazer entre pintar alguns quadros com péssima arte morta,
dar pães às pombas do parque e que precisava de alguém de vez em quando para
sentir-se viva.
- Ele sempre
me pedia que eu fizesse sexo oral nele. Eu nunca fiz sexo oral na minha vida.
Depois que ele morreu, eu comecei a pensar o quão tola eu fui por não ter
tentado algo assim. Depois que ele morreu, eu comecei a pensar como seria,
sabe? Quero dizer... Como seria fazer sexo oral em alguém... Eu queria lhe
pedir...
O mulato ficou
paralisado desde as primeiras palavras da senhora. Não por não saber o que
fazer, mas simplesmente pela falta de interesse com tudo até então. O olhar dele
repousara sobre uma pedra e ali ficara.
- Eu poderia
fazer sexo oral no senhor?
Cesar Domity
Cesar Domity
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