Caro Allen Ginsberg, eu escrevo
poesia porque eu vivo
E eu vivo porque eu me desintegro
E a integridade é uma prisão
Eu vivo porque eu erro
E no erro há sempre uma dose de
caos
E no caos está a semente da vida
Eu vivo porque o mundo é uma
salada
E porque tem cozinheira na
cozinha
Eu vivo porque Shakespear ainda
ninguém derrotou
Eu vivo porque ainda há perigo no
amor
Eu vivo porque o santo sexo da
evolução ainda vive na minha cama
E porque ele é muito mais ideia e
criação do que um simples ato físico
Eu vivo porque não sou católico
Sou cardíaco - mas sem doença no
coração
Eu vivo porque viver é criar em
dobro
E eu não consigo consumar o que é
a vida
Sem a criação
Eu vivo porque existe a
literatura
E Pessoa disse: A literatura é a
melhor forma de ignorar a vida
E é preciso viver para se ter uma
vida para ser ignorada
Eu vivo porque eu me entedio
E o tédio é o primeiro passo para
que depois você viva
Eu vivo porque eu nunca saberei
tudo
Eu vivo porque a vida ainda é
somente uma opção
Eu vivo não porque isso é o
melhor a se fazer
Mas porque, por hora, isso é tudo
que se pode fazer
Eu vivo porque o amanhã é do caos
E o ontem , um lugar que não
encontro mais
Eu vivo porque amanhã posso ter
gripe
Eu vivo porque a palavra “posso” existe
Eu vivo porque, para eu viver,
preciso fumar os meus cigarros
Eu vivo porque eu tenho a
possibilidade de me matar
Eu vivo porque, se nada mais é
doce, eu ainda posso ser
(Ou ainda lembro como é)
Eu vivo porque tem estrada
E se não houvesse, fazer estrada
é ainda melhor
Eu vivo como bebe água quem tem
sede
Eu vivo porque Nietzsche disse: A
vida sem música seria um erro
E ainda tem música
Eu vivo porque eu estou sempre em
desespero
Eu vivo porque Maria Madalena
ensinou-me muito mais lições do que Jesus
Eu vivo porque não sou nem
partidário nem anarquista
Eu vivo porque ainda não sou
Eu vivo porque eu poderia tomar
vinagre se eu quisesse
Eu vivo porque nunca ninguém
saberá o que eu sou
Porque nunca ninguém saberá como
é ser eu
Eu vivo porque há loucura na
razão
E razão para loucura - e na
loucura.
Eu vivo porque metade do que eu
sou é o que eu vivi
E a outra metade é o que eu quero
viver
Eu vivo porque não há mais nada
que eu possa fazer
E mesmo que eu decida morrer,
isso ainda é viver
Vinícius Faria
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