quinta-feira, 14 de junho de 2012

Nervosismo


Nervosismo 


Bebo o copo de água
E o copo me embebe
E volta outra hora
E o outrora se inverte
E a reviravolta se solta
E o corpo inerte
E a bochecha se cora
E a água derrete
E a bomba a se armar
E que volta
E estoura
Ah, me perdi ao beijar.

                                                           Cesar Domity

Pesadelo


Um sonho hoje veio me visitar, sufocou minhas entranhas, não tive como não aceitar.
Preencheu minha vida de verde, senti o sangue nas veias como só senti na infancia.
Ri rizadas não sufocadas, de estranho e livre voar.
Não perdi a esperança, nem tive ânsia por saber, fiquei sem me importar com o tempo.
Sonho, a alegria correu alegre, como sei que não consigo a mim próprio alegrar.
Hoje, não sei o tempo, o rito ou o fim do que é.
Mas deixo ser, pois sendo tudo é, até acabar.

                                                  Vinícius Faria

Quado Falam em Liberdade


O dia começa
Com o café da manhã
Levantam sem pressa
E comem com afã

Já trabalham cansados
Nestes dias pesados
Moram em casas ao longe
Mas chegam antes das onze

“O almoço está servido”
Brada o pai
Os outros já vindo
Sem dizer nem um “ai”

O dia começa
Após uma sesta
A cama estendida
E segue-se a vida

Trabalham assaz
Sem greve do povo
Hoje tudo em paz
Amanhã tudo de novo
 
                                                          Cesar Domity

Medo da Morte

Eu vejo no breu medonho
A morte correr em passos miúdos
E caminhar em passsos largos
Decidida a me confrontar
Meus sentidos tortos inclinados ao vento
Proibe a vista de outrora
Temo meus pés verem o chão
Se perder de mim
E eu me perder de tudo

A morte enraizada como uma árvore
Cheia de maçãs como o pecado
Vermelhas e obcenas como a noite
Nem pelo escuro ofuscadas
De galhos que maçãs tiveram
Retorcidos e sinuosos como as pernas
De uma negra contorcionista

Realidade mista que se dissolve
Já no chão, pouco piso
Paisagem medonha que foi puxada
Árvore de meu espanto sugadora do mundo
Torna-se abstrata como a fumaça
Malditos corvos em debandada
Corrida minha do preto para o branco
Se ainda houver tempo

                                       Vinícius Faria

Noite e Dia


Noite e Dia
 
Pela janela grande do quarto, a vida entra pela manhã e quase me cega. Morfeu se vai e eu fico ali, preso no dia. Tanto quanto vazio e vago, o claro me apanha e não consigo controlar o sonhar que nunca tive enquanto dormia. 


A noite desce em graduada monocromia, leva a cor e os sonhos do dia, o gelo do breu ferve meu sangue e vejo melhor do que na claridade da aurora.


No claro do dia me sufoco no tédio, e o resto é so resto, não serve para nada.


Na noite também...  Fazer diferença não faz. É sorte então. Só espero que nessa, eu possa pelo menos apagar.
                                  
                                                                  Vinícius Faria

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Revolucionário Virtual

Hoje conheci um revolucionário. Alguém que estava em constante luta pela transformação. Não mais que um menino, mas que já é como um Hitler, não para benefício de uma única nação, e sim para todas. Movimentando-se pelo mundo como um messiais mundial.
Como arma suprema, ele faz uso de uma preta caixa quase quadrada cuja face frontal se ilumina. A partir de um duro, fino e comprido plástico retangular com a característica de dar leves estralidos ao ser massacrado com os dedos da revolução, ele envia suas mensagens à humanidade.
Alerta com veemência sobre as crianças do continente africano que pouco têm o que comer e que, por muitas vezes, a espera da urina dos animais é único modo para que de sede estes inocentes não desfaleçam. Desdenha da inteligência dos homens carnívoros enquanto alega que o herbivorismo é viável e que a isto também dá-se o nome de evolução.
Tal qual Van Helsing, ele é um operante da madrugada em uma jornada de horas intermináveis onde veste-se de Légolas para, com suas flechas certeiras, converter alguns para o seu admirável mundo novo. Sobre o espaço dentro da caixa, ele o denota como virtual. Apresentou-me nele o seu círculo de amigos. Descreveu-me sobre a teoria de zumbificação onde seres estagnados vivem para sobreviver e o custo desta é a limitação do pensar. Que mesmo os melhores cérebros podem ser devorados totalmente quando cercados por zumbis.
Digo que conheci um revolucionário. Nada mais que pouco é o que ele precisa. Sua máquina, nenhuma namorada e sua mãe, que lhe traz comida. Diz que o mundo lá fora não pode ser mudado por fora, que há muitos como ele e que a verdadeira luta ali está. 
Palmas para este Dom Quixote. Com leve sabor de escárnio, uma salva de palmas.

                                                                                 Cesar Domity