domingo, 28 de julho de 2013

O Eu Estético

Caio de novo na tentação de ser estético.
Andei lendo coisas diferentes ao mesmo tempo.
Andei pensando sobre os Eu’s em diferentes lugares.
Andei pelas calçadas do centro da cidade com pessoas abarrotadas.
Simplesmente andei por aí.

Sinto uma certa tentação em ler ou em pensar nestes andares diversos.
A obrigação me faz caminhar. Não tenho prazer em tais esforços.
Pensei, por estas tardes de sol no inverno, sobre estes malditos Eu’s que enfestam a minha existência.
Ich, Je, I, Watashi, Yo e, enfim, Eu.
(Maldito senso estético que me perturba pelas ruas e pelos espelhos)
Eu de qualquer maneira... Porém, de qualquer maneira, Eu?
Tive esta sensação de estar perdido e não ser qualquer coisa senão organização.
E, no meio do caminho, Porfíri diz para Raskolhnikov “Quem é o assassino? O assassino é o senhor, Rodion Romanovitch. O senhor é o assassino.”
Imagine a espinha!
Mas que tanto me importa a espinha do Raskolhnikov?
E que tanto me importa minha estética e minha simetria?
Tenha-me como amorfo, então!
Sou amorfo e não tenho espinha. Não sou watashi, ou Ich, ou I e nem ser posso ser. Porque sendo algo, sou eu sendo. E desfaço minha propriedade de ser.
Isto, a que eu costumava chamar de eu, não mais é. 
                              
                 Cesar Domity

Mensagem


Bates com pequenos sussurros em meus tímpanos.
Nem perguntei sobre tua febre terçã de domindo e de terça.
Aquele dia que procuraste te esconder debaixo dos cobertores, enfrentei os semáforos e botei fogo em uns dez cigarros pelo caminho.
Imagino que tenhas deixado um bilhete o qual não posso encontrar.
Fazer tudo isso é muito difícil.
Não sei se é o sofrimento que é ser vivo e me toca ou se sou eu que sou coisa torpe e me espalho pelo espaço da cama.
Imagino que todos os escritores tenham esta coisa...
Esta presença persistente que de alguma forma é aconchegante e querida.
Comporta-se como filho, como namorada tímida, como um animal de estimação pesteado até o talo.  Enraizado no dia-a-dia.
Eu bem que mostrei que há torpor nos cobertores.
Eu mal sorri entre os sussurros.
Se é verdade que escuto, sou são e os outros são todos doentes.
Se é inverossímil, é porque há um déficit na minha retórica e, por conseguinte, todos os outros continuam doentes.
 
                                                Cesar Domity

Emily Decide Entrar Na Parede

Em um lugar como um quarto onde em certos passos da noite o silêncio pode confundir-se com o vazio intrínseco dos sonhos,  um relógio de parede que estrala a cada segundo era uma terrível ideia, pensava Emily. À parte deste pensamento, os sentimentos e conclusões sobre relógios eram outrora mais remendados e dissonantes.
No meio desta noite de quarta-feira, ela foi novamente vítima do silêncio da noite – ou dos gritos dos segundos – e acordou. Nas primeiras vezes em que isso acontecia, ela tão somente intentava revolver-se ao vazio, ilógico e momentâneo mundo dos seus sonhos. Quando isso começou a tornar-se mais frequente, pensou um tanto e notou que, a medida que a cidade dormia, o relógio acordava e, neste dia, amanheceu sentada de pernas cruzadas, cabeça levantada e olhar vidrado no vidro do relógio. Nos dias consecutivos, notou a atenção que todos davam aos relógios e concluiu que as pessoas perderem às horas se devia à existência do mesmo.
Porém, nesta noite de quarta-feira, nada havia de interessante ou novo para se pensar. Então, Emily virou para a parede e permaneceu deitada. Enquanto a embriaguez dos sonhos caminhava para o passado, a imaginação lúcida tomou lugar. Primeiramente, pensou em algo que andasse naquela parede e brincou como se a mão fosse um boneco pentápode dotado de poderes antigravitacionais. Posteriormente, pensou nas lagartixas que andam nas paredes, mas não voam. Desgostou da sombra do próprio pensamento e encerrou a brincadeira como se fechasse as cortinas no fulgurar do sol. 
Passado alguns segundos, o cérebro inquieto a fez perguntar-se “Se algo pode andar na parede, algo pode entrar na parede?”. Na luz desta ideia, levantou-se e sentou frente à parede até o amanhecer.
Sua mãe a pegou durante vários dias olhando severamente para a parede como se existisse um mundo lá dentro. Pensou, primeiramente, que tal comportamento devia-se à mudança de cor da parede que se sucedeu há alguns dias. À medida que a ideia do mundo da parede aumentava, a imaginação de Emily conjeturava as possibilidades do que encontraria se nela pudesse entrar. O que veria? Como se sentiria? O que encontraria lá? Será que outras crianças ou adultos já fizeram esta viagem ou a fazem?
Os dias consecutivos, nos quais manteve-se interna, foram cortados de progresso devido a sua percepção sobre a cor da parede. Não se sentia atraída pela cor atual e resolveu fazer algo para que isso não acontecesse. Andou até a semana passada e tentou convencer seus pais a não fazerem a tal pintura – sem sucesso. Ao total, ela percorreu este caminho por três vezes e a única coisa que obteve foi a perda de três semanas. Desta forma, assim como alguém se acostuma a um novo corte de cabelo, ela se acostumou com a cor e aprendeu a apreciá-la apenas porque ela em si ainda era parede. Neste dia, ela a lambeu. Não sentiu qualquer gosto e pensou que, da mesma maneira que uma foto retrata um lugar mesmo não sendo o próprio lugar, o gosto exterior da parede só poderia ter, no máximo, o sabor do exterior. Todo o desafio e espetáculo do mundo intra-parede guardava-se dentro dela da mesma forma que uma casca de ovo não apresenta semelhança à clara e tampouco à gema.
Acalmou-se um pouco nos próximos dias e agiu como uma menina comum. Confundiu-se muito com os últimos pensamentos ao ponto de querer abandoná-los. Por poucos dias deteve-se aos afazeres escolares e as necessidades básicas do ser humano até que um dia deparou com a ideia da religião e de existir um deus unipresente. Indagou-se sobre como um ser poderia estar em todos os lugares. Sabia ela que, há muito tempo, os homens tinham deuses sobre várias coisas – sol, chuva, inteligência, aves, etc. – e descompreendia como tantos deuses deram lugar a um. Todas as pessoas que Emily conhecia acreditavam em um deus apenas. Mesmo os judeus, os protestantes e os ortodoxos tinham esta coisa em comum.
Em meio a um de seus casos de insônia devido ao relógio gritante, teve uma brilhante dedução sobre as religiões – Paredes. Em vista que as pessoas costumam ter as paredes em volta para fazerem suas viagens internas religiosas, isto deveria ser a explicação. O sol não respondia, a chuva tampouco e aves eram mais suculentas que passíveis de divinação.  Desta forma, quando o primeiro homem entrou na parede, provavelmente divertiu-se com os seres extra-paredes que viam-se tão inseguros com tudo e, entre um ser invisível que responde e entidades visíveis que apenas existem, a primeira era um deus e a segundo era, de alguma forma, apenas algo comum. Além disso, como o parede ligava-se ao chão e este a outras paredes, um ser dentro da parede seria unipresente. Isto é, até onde o chão pudesse conectar-se. Viu uma enorme impossibilidade física nisso tudo e, neste momento, ficou um tanto decepcionada. Pensou que alguém que estivesse nas paredes da Europa, também poderia estar na Ásia e na África, porém não poderia ir para Oceania ou para as Américas e vice-versa. O que a fez pensar se era possível sair da parede depois. E mais: Será que existiria morte na parede?
Dorothy com o tornado, Alice com a toca, Emily com a parede. ‘Por que não?’, pensava ela. Talvez estes mundos não fossem reais como tampouco a parede, porém, e se fossem?
         Desta maneira, Emily começava a notar que já se alongava em demasia no universo das conjeturas. Não queria ser como os adultos que vivem das conjeturas e morrem sem as ações. Nesta noite, respirava em delírio frente à parede. Desenharia uma porta? Não... Certamente que não. Portas são objetos do lado de cá. Devem ser inadequados por lá. Quase uma ofensa, pensava.
Sentada como habitualmente, largou a imaginação e posicionou-se. Inalou, segurou a respiração e no descargo de excitação, no desespero da endorfina, na epidemia de vasoconstrições, largou a respiração sem qualquer ato. Todavia, a ideia de desistir estava longe da realização. E, no imediato momento que pensou na desistência, investiu contra a parede. O corpo de Emily sofreu as consequências da física e os prelúdios da dor, porém resistiu ao próximo compasso. Encheu a boca de vogais e as engoliu. Fez do seu corpo jogado ao chão ereto novamente. Tão somente com uma escoriação leve na testa. E a tontura? Fruto da viagem, pensava ela. Supunha que quase alconçou o que desejava.
Nesta última tentativa, manteve-se leve. Esqueceu o resto da existência. Fechou toda a consciência. E, em um definitivo impulso, desta vez, Emily entrou na parede.
     Cesar Domity

Menos Verborrágico que o Usual


Hoje
Estou desagregado
Desacostumado com tudo que é torpe
Espalhado pela sombra dos freixos
Aterrado na litosfera do meu pensamento

Comedido – isso posso dizer...
Lívido com o reflexo do meu reflexo
Que ainda é um Eu duas vezes quiral
Infastado de humanos
Chamo-me Hoje – apenas para mim
Sensações, pois, sou muitas.
Incapaz de não vugarizar meu eu
E de me fazer em papel
Fazer-me fonético e verbal

Folha outonal
Pairando na existência
Dentro do descaso do ocaso
Descanço por sobre a rede
Porque faz calor em toda a cidade
E hoje resolvi fazer nada.

                                    Cesar Domity

sábado, 27 de julho de 2013

Mecatrônica Íntima

A cada metro do teu riso virado
Meu medo sofrido
A cada centímetro do teu corpo gelado, brando
A textura do meu sabonete líquido
Nos quilômetros teus olhos, internos, oblíquos
Um soluço colorido, varrido daquelas tempestades pintadas
Em porcelanas chinesas
Em cada ruga das tuas tripas
Inversas, as almas de teus amantes servidas numa mesa comprida
A cada dobra do teu vento do teu ventre de dentro
O teu perfume de notas sonoras de amora madura
A cada parte interna da tua perna a tua lábia a gargalhada
A cada caverna tua íntima a semente palpitante da tua filha
Resfriada, encolhida
A cada litro do teu sangue, uma noite velha e lisa
De brisa que roça o coseno do teu tronco
A cada plaino gravitacional do teu meio
A ânsia o desespero
A insônia, o grito

                                              Vinícius Faria

Cosmopolita


Andam los besos de La mia mano
En las noches blancas del tu cuerpo de adormecimiento
Cateando valles y estrato

En lo bioma delos sueños de la luna
Rastros delos senos nievado de tu torso
A donde el  lago hondo del tu ombligo
Dividi la manzana al mitad                                               
En él aún no se elaborou el tiempo

Y en lo encuentro inciestoso delas mitads
El sabor napolitano delas bocas de sorbete
En los decâmetros de 25 megapixeis
Señal de melanina en la candor hidratada
De la tuya piel estratosférica

Del miel color delos tuyos ojos
El segredo derretido de la alma de lo suspiro
En lo silencio de los pasos húmedo

                                              Vinícius Faria