quinta-feira, 17 de maio de 2012

Parcimônia do Caráter (III) - Continuação

         - Pensei que se não tivéssemos a interação emocional sobre nosso comportamento poderíamos obter uma forma racional de agir. Se excluíssemos todas as ações que poderiam ser reacionais devido as emoções, todos os humanos comportar-se-iam da mesma forma, sendo lógicos.
- O que há de errado com este pensamento?
- Tudo que fazemos e pensamos parece ter uma base para dar fundamentação a tudo. Alguns têm suas religiões e toda base volta-se a livros, ou livro, contos, mitos, mas isto não é mais que uma desculpa bem articulada, nenhuma base provém daí, todavia ainda não foge de um principal fator. Nos outros casos, vemos o desenrolar do pensamento, vemos estes caminhos da razão, concordamos ou discordamos e assim se procede, porém veja que tudo isto leva a um fator principal que dá base a toda esta fundamentação: o axioma de que nossa mente pode inclinar-se para o certo e descartar o errado.
- Desenvolva.
- Neste caso, não estamos falando sobre o certo ou errado, estamos nos referindo a limitação da mente sobre este poder.
- Logo, tu queres dizer que, em determinada situação, se teu cérebro conclui que aquela maneira é a mais racional de todas, mesmo existindo uma outra, tu, mesmo como ser consciente, não poderá mudar a linha de pensamento e se oporá a outra, que na verdade, é a mais racional de fato?
- Sim. Além disso, como podemos supor que em qualquer situação esta opção pode ocorrer? Como não podemos supor que isto seja exatamente fruto de um febre humana chamada racionalidade? Ou até que muito disso – ou tudo - não seja fruto da praticidade?
- Como entrar em um elevador e apertar o número que se quer ir em vez dos outros?
Virgo levantou o supercílio demonstrando interesse pela observação. Enquanto a jovem acendia um cigarro de cravo importado, ele fechou os olhos ao passar a mão pelo rosto.
- Como saber que toda a realidade não é forçosamente um laborioso processo cognoscitível? Digo, assim como há pessoas que escutam menos que outras, poderíamos ver mais realidade ou menos do que a existente?
Um dos conhecidos sopros o arrastou novamente para um novo lugar no mesmo lugar. A sala arrumada. “Menos móveis que semana passado” concluíu, a percepção que ali era o mesmo lugar não faltava, o que dava mais por falta era a presença da dela.
                                                             Cesar Domity



Parcimônia do Caráter (III)

                                                                    (Parte III)

O sol invadia com fulgor a grande janela quadriculada central. Ele olhou com repugnância e, entrementes acompanhado de tropeços e típico embaraço matutino, puxou as cortinas. Alguém insistia na porta até que fosse aberta.
- Pensei que já estarias morto.
- Por que faria isso?
- Por que não farias isso?
- Por que tu não fazes isso?
Adentrou ao apartamento tão logo ele abriu a pequena entrada de madeira, que não a janela, uma jovem de cabelos áureos e esvoaçantes, vigorosa e rígida. Ambos respondiam muito rápido a retórica alheia, eram firmes e beiravam a rispidez em cada palavra, de costume que envolviam-se em conversas como em um jogo de xadrez.
- Onde está o hipopótamo?
- Não sei do que falas.
- Hipopótamos são animais extremamente territoriais e agressivos, a aparência carismática destes fazem humanos aproximarem-se deles como animais domésticos comuns. É o animal que mais causa mortes na África. Então, posso supor que trouxeste um aqui para fazer uma guerra-de-travesseiro mortal.
Ela olhou firmemente para Virgo que sentava-se no sofá central.
- Desta maneira só consigo pensar em duas perguntas: Onde está o hipopótamo ou o que aconteceu.
Ela sentou-se na mesa logo a frente do sofá. Olharam-se profundamente. Pouco barulho poderia ser ouvido do lado de fora e praticamente nenhum de dentro.
                                                             
                                                                                                                      .... continua.