segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Amanhã

Essa não é bem a mão que busca a alegria    
Tão pouco recolhe nuvens no céu
Não se sabe do algodão doce do domingo de tarde
Levaram a criança do algodão e te colocaram no lugar
Ainda ficou o quarto de lua para olhares a noite
Mas já não carregas mais nada no bolso
Atrás da praia agora há outra escura
Em que as ondas dificilmente deixam dormir
Sei lá para onde levaram as brincadeiras
Tudo que posso fazer é andar contigo em uma corda bamba
E é tudo que se pode aprender
E é tudo que se deve aprender

A noite às vezes a gente sente sede
E o copo d’ agua costuma dar pesadelos
Mas como não tomar no sufoco deste inverno invisível
Passavam fantasiadas as mãos às vezes
Mas intenda, elas andam sempre nuas
E sentem vontade de viver dentro delas mesmas
E é estranho um mundo sem mãos
Com as mãos dentro das mãos
Mas pode correr descalça grama verde sempre tem
E pode esperar a chuva na varanda
A chuva sempre vem

A dona Maria vai morar longe
E não vai ter mais biscoitos
E as cerquinhas de madeira são suicidas
Nada é explicito mesmo debaixo dos vestidos
O que escondem sempre esconde algo
Passo firme mesmo, só quando não se sabia
E deitar no tapete para brincar deitado
Amanhã o despertador chora
Mas pensar não resolve
Amanhã o dia acorda
Hoje você dorme


                                                 Vinícius Faria

Poema Fúnebre

Foi um desaviso enorme quando cheguei e a casa estava desarrumada
O vestido no gancho parecia mais pregado do que nunca
Do que nunca estivera na verdade
Porque nunca estivera. Nada nunca esteve pregado
Mas, eram bons os belos quadros flutuando na parede
Subitamente me deu uma preguiça desgraçada
E por dias não arrumei a casa
E tantas vezes saí tencionando não voltar
Para não juntar o morto que tinha na minha sala


                                               Vinícius Faria

O que você onde?

Que longe essa foto sua que me olha.
Quem era essa outra menina que você guarda?
Com quem você está ainda, que aqui você não cabe?
Para quem esses cremes que você passa?
Para onde esse cheiro que você vai?
E esse vestido onde você se empacota como a menina que dorme no quadro ao lado da porta

Aonde você se deixou que toda noite você sai?
E onde estão as lembranças que você não toca se com elas toda tarde você dorme, quando perambula de noite pela casa?
Onde você quer se colocar, que em lugar nenhum você pousa ?
Aonde você quer ir quando pela porta você sai se depois você volta?


                                                                   Vinícius Faria