domingo, 4 de março de 2012

A Parcimônia do Caráter (I)

(Parte I)        
         Entre as similares prateleiras dispostas como soldados o Sr. Dia-Florido se desaventurava. Todos os dias buscava as provisões diárias nesta marcha hipnótica da prateleira um à trinta e dois. Do outro lado da entrada, trespassando a massa humana que comumente move-se tão lentamente quanto costumam pensar, seções específicas para atendimento mais imediato.
         - O que desejas, senhor?
         - Dominação global e higienização social, todavia não vejo como meu desejo pode aplacar minha necessidade. Além de que, o interesse de algúem pelo meu desejo é incomum.
         - Como, senhor?
         - Pão francês. Cinco, por favor.
         Conversas costumeiras levam a pessoas costumeiras. Esta mulher do balcão era jovem e comum, sem qualidades adicionais. A saída do mercado dava em um estacionamento colossal replete de carros assando. No entanto, Sr. Dia-Florido pegava ônibus. O estranho objeto de liberdade que habitava as ruas de dia e entocava-se à noite. Acasalavam-se pouco e tão-só a cada dois ou três anos era possível notar novos onibusinhos.
         - Calor hoje, não?
         Disse uma senhora que segurava sacolas e uma criança. Como resposta, Sr. Dia-Florido ofereceu um sorriso e um aceno de cabeça. O comportamento consuetudinário para demonstrar indiferença em medida com a tendência de não satisfazer a ilusão de uma conversa subsequente, que é como um gole de interpessoalidade tendo em vista a não persistência na palavra.
         Cedo já em casa estava. Televisão, nicotina e cafeína. Leu algumas páginais destes jornais regionais que estimulam o viver com enredo novelístico e trágico e deitou de luz acesa. Levantou para apagá-la e, enfim, deitar de luz não acesa.
         Novamente nos mesmos corredores infinitos e consecutivos, dotados da continuidade e uniformidade. O corredor três estava interditado o que, por fim, alteraria o caminho habitual. Caminhou até o final do corredor quatro para voltar em seguida pelo mesmo ao passo que resmungava do tamanho da desordem que este ocorrido gerou.
         - O que a palavra república denota nos nossos dias?
         - Como, senhor?
         - Pão francês. Cinco deles, por favor.
         A mulher de hoje era defeituosa. Era notavelmente gorda. “Fora a massa, defeito esta não teria?” Pensou Sr. Dia-Florido. “Quando partilhei deste pensamento(?): Gordos são defeituosos”. Demorou-se neste pensamento.
         - O senhor pode dar licença?
         Pediu um jovem adolescente que estava como próximo da fila nesta seção intitulada padaria.
         - A obesidade é uma anti-qualidade porquanto ajusta-se a uma atenuação do caráter. Tua vontade por sobre tua vida não é suprema. Tu és um animal classificado como primitivo. Embora possa ainda tentar suprir estes momentos primitivos com cactaristícas sociais mais sofisticadas... Alguns de vocês, gordos, causam interesse geral para isto que falei, mas tu, que trabalhas na padaria, não.
         Um silêncio assomou-se ao redor e o Sr. Dia-Florido bem sabia que tais palavras devem ser seguidas por apenas duas opções: Um retórica da parte que escuta ou um estratagema de nome saída

                                                             Cesar Domit



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