sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Retrato da Infância

Acordei o silêncio
E agora ele me ensurdesse
Onde estou eu que não estou aqui
Perdi-me em algum labirinto?
Fiquei preso dentro de mim?

E tudo vai passando sem que eu saiba prover
O que é essa ânsia se não quero nada?

Há uma mão puxando meu coração
Que agarra, puxa e estilhaça

E busco de volta meu coração
Num poço sem fundo
E neste segundo
Acho que me deixei lá na superficie
E não sei mais em que fundo do fundo de onde
É este que estou
Parece-me que tudo está longe
E perdeu sua utilidade fronte - Minha visão de fundo de poço
Tudo perdeu o sentido e a irmandade que tinha

Com seu nome tido
Até as minhas palavras parecem estranhas
Até a palavra não tem mais o sentido que teve no inicio

Nem ouso me olhar no espelho
O que vi no espelho desde sempre
Foi qualquer coisa não eu
E deixei de me ver
Com medo desse não eu que sou

Meus pensamentos me escapam
E hei de váriar os sentidos até o fim deste texto
E já estarei me estranhando novamente

Aqui perto de mim há uma foto de minha infância
Mas não estou ali
Quem é aquele garoto se não eu
E a imagem da imagem que tive?

Mas a imagem é imagem mesmo sem
Algo por baixo precisar ter
E como vão saber que ali estive?
Como vão saber que aqui estou?
Aonde estou?

Teve gente que passou anos comigo sem nunca ter estado.
E há quem me disse que já tinha estado comigo sem estar, já tinha estado sozinha, sem me conhecer

Até este texto tem mais a minha presença do que a foto da minha infãncia
Tem mais minha presença do que meu corpo agora

Um pensamento me vem
Existe pessoas que não são
Que são só uma foto de infância
Que sentem mais elas mesmas no espelho
Do que fora dele
Possuem medo do mundo

Preciso de uma árvore agora,
Teria mais sensação de estar perto dela do que das pessoas que tenho visto por aí
E que desconfio nunca estarem
Ou terem ficado lá na superficie
Com meu corpo e eu aqui
Neste poço de lugar nenhum e sem fundo

Aonde será que me encontro?
Ou onde encontro pessoas?
Ou seja lá o que seja... Eu, pessoas, poço, superficie...
O que penso do meu retrato de infância?

Eu vejo.
O que vejo no meu retrato de infancia?
Uma imagem.

Amanhã o meu hoje será só imagem
E nem na lembrança não serei
Como aquele do retrato agora não é

                                                      Vinícius Faria

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