quinta-feira, 23 de maio de 2013

Vai anoitecer, Betina

Já começa a anoitecer.
O que é isso?
É pulga que me sobe?
Não. Não faça nada.
Deixe que ela me ame.
Se ela não se alimenta de mim, alimenta-se de você, querida.
Ou de fome morre.

Quem disse que as horas passariam cadentes?
Estão elas homogêneas e pestilentas.
Grudadas na parede e exaurindo pavor.
Guarda este relógio, mulher!
Guarda-te tu também.
Não aí. Na gaveta mais em cima.
Direita... Esta!

Não recolherás a roupa?
Está anoitecendo.
Eu sei que tu sabes.
Apenas queria avisar...
Talvez até venha chuva de noite.
Tem este vento de gente nova soprando.

Tens razão.
Será bom que chova.
Puta que pariu, Betina. Quando foi que ficamos tão chatos?
                                                             
                                                              Cesar Domity

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